quinta-feira, 3 de março de 2016



Saúde pública em Nampula
HCN: Um atentado à saúde pública
·         Utentes queixam-se de problemas no atendimento, ausência de higiene e demoras acima do aceitável.


Utentes e acompanhantes queixam-se de situações de mau atendimento e o estado de abandono a que se encontram as infra-estruturas do maior centro hospitalar do norte de Moçambique, Hospital Central de Nampula (HCN).
A nossa reportagem em Nampula recebeu diversas queixas dos utentes do Hospital Central de Nampula, os quais apontam para situações drásticas que se agudizam, sobretudo nos últimos dias a que as infraestruturas estão em manutenção.
Numa visita efectuada pela nossa reportagem às instalações do HCN constatamos que a situação de higiene não é das melhores, bastando reparar pela areia que está em todos os pisos e degraus do hospital, bem como casos de marcas de sangue pelo chão.
Por outro lado, o pátio do HCN denuncia claramente a imundice e o mau funcionamento do sistema de escoamento das águas negras.
Uma servente que nos pediu o anonimato assegurou que não somente os utentes reclamam mas, também, os funcionários porque periga suas vidas.
"Meu senhor vou-te assegurar que os únicos sítios aqui no hospital que estão limpos são os gabinetes do director geral, directora clínica e do administrador" - desabafou a funcionária.
Ainda na ronda que efectuamos ao HCN constatamos que apenas o edifício de Oftalmologia é o único que apresenta condições de higiene e mais da metade das suas salas estão ao serviço da Clínica Especial. o edifício em alusão foi construído através de um financiamento mobilizado pela organização não-governamental inglesa Sightsavers International, a qual ainda presta apoios aos serviços de oftalmologia um quase por toda região norte do país.
Entretanto, a situação de higiene, mau atendimento e cobranças ilícitas no HCN não é nova. Mesmo antes do inicio das obras de reabilitação daquela unidade hospitalar a situação já mostrava caótica.
A cidade e província de Nampula registam nos últimos tempos casos de diarreias agudas, incluindo cólera, facto que coloca os utentes do HCN mais alarmados.
Quanto a situações de malária, dados daquela unidade sanitária indicam que tem sido a maior causa de internamento, o que se pressupõe, do ponto de vista dos utentes que muitos casos de malária são mesmo contraídos no HCN.

"Ficamos mais doentes aqui"
Os utentes dizem que dão entrada no Hospital Central de Nampula e que quando recebem alta saem com outra doença.
"Aqui é normal você entrar com dores de barriga e sair enquanto já contraiu malária porque há muito mosquito e nem todos os quartos tem redes mosquiteiras" - disse J. Amade, utente do HCN.
No terceiro andar, onde dentre várias enfermarias improvisadas funciona a enfermaria de ortopedia, a situação é ainda mais gritante. Os corrimãos das escadas andam ensanguentados e os degraus todos empoleirados. A limpeza rotineira acontece de forma deficitária e ainda assim sem meios próprios.
Já no espaço onde funcionam os serviços de pediatria uma mãe desesperada com o filho deitado no chão não hesitou em acusar a direcção do HCN de ser composta por "pessoas desumanas".
"Não sei porque defendem que `o nosso maior valor é a vida´ quando na verdade eles atentam contra a vida das pessoas. Um hospital não pode estar naquelas condições" - disse a senhora que não quis ser identificada.
Os utentes apontam, igualmente, de estarem a ser vítimas de cobranças ilícitas em todos os sectores do HCN com destaque para os serviços de maternidade, urgência e pediatria.

Directora clínica sem tempo
Na cidade de Nampula, a nossa reportagem deslocou-se por diversas vezes ao Hospital Central de Nampula para colher o posicionamento da sua direcção em relação as acusações.
Soubemos que o director geral encontra-se de férias e que a directora clínica, Bainabo Sahal, anda sem tempo.
Por outro lado, tentamos sem sucesso, via telefone ter a reação da directora clínica ao que não se predispôs, alegadamente porque se encontrava reunida.